top of page
RALLY 2002 - FILME 440 FOTO 30.jpeg

O Rally e

os Sertões

GALERIA DOCUMENTO

Textos e Fotos: Thelson J Lemos

INTRODUÇÃO

Existem muitos eventos e competições off-road no Brasil, sempre reunindo vários competidores amadores ou profissionais, mas nenhum deles se compara ao Rally dos Sertões. Pelo tamanho de seu percurso, pelo simbolismo de estar atrelado ao Rio São Francisco, pela quantidade de pessoas que mobiliza em cada edição, pelo nível técnico dos competidores e pela enorme cobertura da imprensa brasileira e mundial, o Rally dos Sertões é hoje o mais importante e a maior competição off-road das Américas!

Mas não se trata apenas de uma competição, onde carros saem como loucos levantando poeira... o “Sertões”, como é carinhosamente chamado pelos mais íntimos, celebra a diversidade do povo e do meio ambiente brasileiros e resgata valores como bravura, resiliência, espírito esportivo e solidariedade.

Quem participa uma vez dos Sertões não esquece jamais, e fica marcado para o resto da vida com a energia deste mega evento.

 

Tive o prazer de trabalhar em uma das equipes da organização do Rally dos Sertões de 2001 a 2006, a Equipe Canastra, e estando lá dentro pude ver e registrar em muitas fotos como ele funciona, os desafios e maravilhas de se estar no meio do Brasil.

 

Conheça nesta Galeria especial, através de minhas fotografias e textos, o que é o Rally dos Sertões, sua história, seus bastidores, como funciona sua organização, as pessoas que passam pelo Rally, e aquelas que estão no caminho do Rally.

 

Aliás, o caminho é incrível, com muitas paisagens maravilhosas, de um Brasil escondido, cruzando serras, rios, lugares isolados, cerrado, caatinga: os sertões.

RALLY%202002%20-%20FILME%20446%20FOTO%20

Pára brisa da Mitsubishi L200 Evolution de Klever Kolberg e Lourival Roldan no Sertões de 2002.

RALLY%202002%20-%20FILME%20450%20FOTO%20

Os Sertões

logo_rally_são_francisco.jpg

A HISTÓRIA DO RALLY DOS SERTÕES

A história do Rally dos Sertões começa em 1991, quando foi realizado o primeiro rally cross-country organizado no Brasil. Ele se chamava Rally São Francisco e foi organizado pelo arquiteto Chico Morais, considerado o “Pai das Competições Cross-Country no Brasil”, a quem tive o prazer de conhecer, um apaixonado pelas trilhas da Serra da Canastra. Inspirado pela mística do Rio São Francisco, Chico uniu a paixão pelas trilhas com a ideia de viajar o Brasil em uma competição off-road, que teve início em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo com 41 inscritos, apenas de motos, seguiu rumo ao nordeste do país acompanhando o leito do Rio São Francisco e terminou em Maceió, Alagoas, num percurso total de 3.800 km. A estrutura envolvida nesse primeiro rally era a mínima necessária com um total de 12 pessoas. O vencedor do Rally do São Francisco foi Bernardo (Bê) Magalhães. A história desse início do Rally Cross-Country no Brasil está narrada no livro “No Brasil - o Primeiro Rally Cross-country Brasileiro” escrito pelo próprio Chico Morais.

RALLY 2002 - FILME 440 FOTO 13.jpeg
RALLY 2002 - FILME 443 FOTO 14.jpeg

Competidores nº 172 e 132 aceleram no Sertões 2002

A partir de 1993 o rally passou a se chamar Rally dos Sertões e começou a crescer em tamanho e importância. Em 1996 a organização do evento passou a ser da empresa Dunas Race que imprimiu grande profissionalismo, tanto na parte técnica quanto na organização. A estrutura do evento crescia a cada ano, assim como a cobertura que era dada pela imprensa.

 

Para se ter uma ideia do tamanho da estrutura do Rally dos Sertões, à época que participei do evento eram aproximadamente 1.500 pessoas envolvidas no evento, divididas em equipes com funções bem definidas. Existiam pessoas cuidando da parte técnica da competição, supervisionadas pelas entidades desportivas de cada categoria e observadas por representantes internacionais. Outra equipe importante é a Médica, que acompanha todos os participantes e presta apoio no caso de acidentes com o uso de helicópteros UTI e equipe de médicos muito bem preparados, comandados pelo Dr. Clemar Correa. A Ação Social era uma equipe que se dedicava a prestar ações sociais nas comunidades localizadas no percurso do Rally com distribuição de cestas básicas, kits de material escolar e de higiene pessoal, de livros e atendimentos médicos às comunidades carentes. E tinha também a Equipe Canastra, da qual eu fazia parte. Nosso trabalho era percorrer o trajeto do Rally recolhendo todo o resíduo produzido pelo evento, nos trechos da competição retirando pedaços de carros que ficavam pelo caminho, coletando óleo derramado e gerenciando os resíduos dos acampamentos. Além disso tudo, tinha equipes de cenografia para montar os acampamentos e os locais de chegada e largada, imprensa, e todas as pessoas envolvidas nas equipes de competição com mecânicos, motoristas, equipes de apoio e até massagistas.

2002%2520449%252001_edited_edited.jpg

Família recebe cesta básica doada pela Ação Social do Rally dos Sertões

2002%2520439%252006_edited_edited.jpg

A imprensa é atraída para os Sertões para revelar um Brasil escondido

RALLY 2002 - FILME 447 FOTO 17.jpeg

Dr. Clemar Correa, chefe da Equipe Médica, atende pessoalmente o piloto Dimas Mattos que sofrera acidente durante etapa dos Sertões de 2002

A entrada de equipes de grandes montadoras como Mitsubishi, Chevrolet e Troller, com pilotos de ponta e de nível internacional como Klever Kolberg (que com André Azevedo representou o Brasil por vários anos no Paris-Dakar), Jean Azevedo, Juca Bala, Guilherme Spinelli e Marc Coma atraiu atenção da imprensa, de grandes patrocinadores e de público. Redes de TV nacionais e regionais enviavam representantes para cobrir as largadas ou todo o evento; sites de esporte e de aventura, que estavam iniciando as atividades naquela época, abusavam da tecnologia disponível, como transmissões via satélite de locais remotos, para enviar imagens quase em tempo real.

RALLY 2002 - FILME 444 FOTO 08.jpeg

Competidores de alto nível como Guilherme Spinelli, Édio Füchter, Milton Pereira, Klever Kolberg e Lourival Roldan elevaram a importância dos Sertões

RALLY 2002 - FILME 444 FOTO 33.jpeg

Grandes equipes trazem para os Sertões o que há de mais moderno em tecnologia. Em 2002 os GPS já ajudavam no rastreamento dos veículos. Nas fotos acima e abaixo técnicos da equipe Chevrolet monitoram deslocamento de seus carros durante trecho de especial

RALLY 2005 - CD 19 - 00230005.JPG

Piloto se prepara para a largada de trecho especial auxiliado por membro da Equipe Técnica. Sertões 2002

RALLY 2002 - FILME 444 FOTO 03.jpeg
RALLY 2002 - FILME 444 FOTO 36.jpeg

Cockpit de um dos carros da equipe Mitsubishi (L 200 Evolution) que em 2002 eram pilotados pelas duplas Ulysses Bertholdo / Alberto Zoffman e Guilherme Spinelli / Andrey Valério

2002 445 10.jpeg

Helicópteros usados pela organização do Rally passam a fazer parte da paisagem das tradicionais lavadeiras

RALLY 2002 - FILME 443 FOTO 30.jpeg

Piloto aguarda momento da largada enquanto é observado por moradores de um vilarejo durante os Sertões de 2002

2002 442 19.jpeg

Contagem regressiva para o competidor 124 nos Sertões 2002

2002 442 29.jpeg

Detalhe da planilha usada pelos pilotos de moto para se guiarem pelos sertões. Ela apresenta pontos no roteiro como pontes, bifurcações e curvas indicando aos pilotos o caminho a seguir

O DIA A DIA NOS SERTÕES

Organizar e fazer rodar um evento itinerante como o Rally dos Sertões não é tarefa para amadores. A equipe de organização trabalha durante meses a fio e de forma muito profissional para que tudo esteja preparado no dia da largada. Mas manter o evento ao longo de 5.000 km com acampamentos em várias cidades e cuidando de 1.500 a 2.000 pessoas envolvidas em todas as etapas exige coordenação e estrutura únicas.

O dia começa cedo com os mecânicos fazendo os últimos ajustes nos veículos. Carros, motos e UTVs têm que estar 100% preparados para o longo percurso a ser percorrido, às vezes chegando a 1.000 km em trechos que envolvem as especiais (trechos cronometrados que valem para a competição) e deslocamentos, até que se chegue no próximo acampamento em uma outra cidade, em outro estado.

 

Enquanto isso as outras equipes se preparam para seguir a caravana. Os caminhões da cenografia já estão longe, viajaram durante a noite e a essa hora estão chegando já no destino para armar a estrutura da chegada. Equipes Médica e da Técnica já estão a postos para a largada. A Equipe Canastra faz o recolhimento dos resíduos dos boxes e encaminha todo o lixo do dia para reciclagem enquanto aguarda para largar atrás do último competidor junto com a equipe de guinchos.

 

No horário marcado as motos alinham-se no local da largada. Membros da equipe Técnica instalaram o painel eletrônico que indica o momento de acelerar e a cronometragem começa. Uma a uma as motos começam a rasgar o sertão. O helicóptero da cenografia já está sobrevoando o local para filmar os veículos em ação e enviar imagens incríveis para o mundo todo. Um avião sobrevoa todo o trajeto funcionando como antena de rádio, fazendo a triangulação da comunicação entre veículos de competição, organização, equipe médica e todos os demais.

 

Na sequência largam os quadriciclos e depois os carros. Ao todo são mais de 200 veículos competindo. Quando o último é liberado, uma caravana de carros da organização entra no percurso. Médicos, guinchos, Ação Social, Equipe Canastra, imprensa, mecânicos em seus veículos de apoio... todos percorrerão todo o trajeto da competição, porém em um ritmo bem mais lento. Em algumas horas as primeiras motos começam a chegar ao destino, tendo completado o dia. Esses carros da organização levam quase que o dia todo. Não apenas porque são mais lentos, mas porque vão parando e realizando cada um seu trabalho.

RALLY 2002 - FILME 450 FOTO 14.jpeg

Concentração de carros e pilotos no momento da largada. Em primeiro plano a Mitsubishi L200 Evolution de Klever Kolberg e Lourival Roldan

RALLY 2002 - FILME 449 FOTO 09.jpeg

Concentração de moradores curiosos com os veículos e estrutura do Rally dos Sertões no momento da largada

RALLY 2005 - CD 19 - 00270030.JPG

Membro da Equipe Técnica confere últimos detalhes para a largada. Sertões 2005

RALLY 2002 - FILME 443 FOTO 21.jpeg

Em pequenas cidades ou locais mais isolados o momento da largada atrai a atenção de todos, principalmente das crianças. Sertões 2002

Na Equipe Canastra o time que percorre o trajeto é responsável por recolher todos os resíduos deixados no caminho pelo evento. Isso inclui sinalizações, pedaços de carro que se soltam, lixo eventualmente encontrado e, o mais trabalhoso, peças de carros nos locais em que se acidentam. Acidentes acontecem com frequência, por isso o cuidado tão grande no preparo e estrutura da Equipe Médica. Mas no local do acidente podem ficar pneus, vidros estilhaçados, óleo derramado, peças em geral. Tudo isso tem que ser recolhido para não sujar os sertões e ser levado para a cidade mais próxima onde é encaminhado para reciclagem. Quando acidentes acontecem a organização informa a Equipe Canastra e os guinchos através do rádio sua localização, para que possam se dirigir até o local e fazer a limpeza.

Trata-se de um trabalho complexo pois pode demorar um bom tempo para recolher todo aquele material. Muitas vezes chegamos no destino de madrugada, depois de viajar o dia todo pelo percurso cumprindo a missão de não deixar nada para trás. É uma grande responsabilidade da organização do evento causar o mínimo impacto possível ao meio ambiente e às populações locais.

 

Já no destino, uma estrutura é armada para a chegada dos competidores. A população da cidade se reúne para ver curiosa aqueles veículos preparados e seus competidores “malucos”. Grupos folclóricos com artistas locais se apresentam e a chegada se transforma em uma grande festa.

 

A noite é a hora do Briefing entre equipes e organização. Neste momento são passadas informações sobre o trecho percorrido naquele dia e são passadas as informações e alertas sobre o percurso do dia seguinte. Um painel apresenta os tempos de cada veículo e a pontuação geral.

 

Para dormir são usados hotéis, pousadas e casas na região, além de motorhomes e barracas das equipes. Mas cada equipe possui sua estrutura própria que varia de acordo com o número de competidores, padrão dos patrocinadores e seus orçamentos. Existem aqueles competidores independentes que possuem quase nenhuma estrutura de apoio, e existem as equipes profissionais com estrutura de alto nível. Nesse caso, a equipe conta com mecânicos, preparadores físicos, estrategistas, veículos de apoio e massagista para atendimento aos competidores. Essas equipes possuem os melhores equipamentos, veículos de alta tecnologia que conseguem desenvolver altas velocidades com estabilidade no terreno acidentado dos sertões.

RALLY 2002 - FILME 450 FOTO 03.jpeg

Klever Kolberg acelera! Em 2002 terminou o Sertões em segundo lugar, atrás de Édio Füchter e Milton Pereira da equipe Chevrolet com uma S-10

RALLY 2002 - FILME 446 FOTO 34.jpeg
RALLY 2002 - FILME 445 FOTO 28.jpeg

Poeira! Sertões 2002

RALLY 2005 - CD 19 - 00260033.JPG

Em várias oportunidades o comboio dos Sertões é obrigado a cruzar grandes rios, como o São Francisco. Essas travessias acontecem em trechos de deslocamento onde carros de competição, da organização e moradores locais se misturam nas balsas. Travessia durante o dia em 2002 e à noite em 2005

RALLY 2005 - CD 19 - 00230010.JPG

Mitsubishi L200 Evolution da equipe Vedacit Rally Team nos Sertões 2005

RALLY 2005 - CD 19 - 00270015.JPG

Moto nº 120 acelera nos Sertões de 2005

RALLY 2005 - CD 23 - 36630030.JPG

Competidores conferem os resultados do dia no Briefing em uma das etapas dos Sertões 2005

RALLY 2005 - CD 19 - 00220035.JPG
RALLY 2005 - CD 27 - 16670025.JPG

Crianças observam a passagem da caravana do Rally dos Sertões na edição de 2005

“CEIS É RALLY?”

 

Não é por acaso que a caravana dos Sertões atrai a atenção de quem vive nas cidadezinhas que estão no seu caminho. Aquele número enorme de carros e motos coloridos e preparados, homens e mulheres vestidos com macacões e capacetes, outros tantos andando apressados de um lado para o outro com rádios comunicadores nas mãos, crachás, falando palavras esquisitas... tudo isso é estranho e interessante para os simples e pacatos moradores dos sertões. E uma expressão que ouvimos muito é a pergunta “ceis é rally?”. Ao fazer esta pergunta querem confirmar se fazemos parte daquele circo todo, e ao ouvir um "sim" começam a fazer algumas perguntas como de onde viemos, para onde vamos, quem somos... Perguntas profundas para pessoas tão simples, mas muito curiosas.

RALLY 2002 - FILME 449 FOTO 23.jpeg
RALLY 2005 - CD 19 - 00230012.JPG

A EQUIPE CANASTRA

A Equipe Canastra foi meu veículo para dentro do Rally dos Sertões. E tudo começou em 2001. Naquele ano eu trabalhava na Serra da Canastra com ecoturismo, e também com educação ambiental para turistas e moradores da região através do Instituto Ambiental Viatrips, do qual fui fundador. Identificamos naquele momento que um evento off-road passou pela região da Serra da Canastra e deixou para trás grandes marcas como material de sinalização (placas e faixas), lixo e estragos nas cercas e porteiras das fazendas. Comentamos sobre isso com a Simone Paladino, que trabalhava na Dunas Race na época, e daí surgiu a ideia de se criar uma equipe para fazer esse trabalho de limpeza do trajeto. Nascia ali a Equipe Canastra, fruto de uma parceria da Dunas Race com Os Canastras (agência de ecoturismo que atuava na região da Canastra) e com o Instituto Ambiental Viatrips.

 

Em poucos meses desenhamos a estrutura e a estratégia da Equipe que seria composta por uma caminhonete Mitsubishi L200 cedida pela organização e 3 membros voluntários: Flavio Piassi e Carlão Andrade representando Os Canastras e eu, Thelson, representando o Instituto Ambiental Viatrips.

2002 448 10.jpeg

A Mitsubishi L200 utilizada pela Equipe Canastra no Rally dos Sertões de 2002. Na caçamba diversos equipamentos e ferramentas para o trabalho de limpeza das trilhas, além do material de educação ambiental

RALLY 2005 - CD 19 - 00260020.JPG

Equipe Canastra em deslocamento durante os Sertões de 2005

2002 448 16.jpeg

Um carro de competição pegou fogo durante trecho de especial nos Sertões de 2002. Tudo que foi queimado foi recolhido do local pela Equipe Canastra, e a carcaça foi guinchada, deixando o local limpo

Carlos Andrade, integrante da Equipe Canastra durante os Sertões de 2002

RALLY 2002 - FILME 444 FOTO 26.jpeg

Ter uma equipe para cuidar da gestão ambiental do evento foi uma iniciativa totalmente nova pois nenhum outro evento desse porte, naquela época, pensava nisso. Mas mais que isso, levamos para o Rally as “bituqueiras” desenvolvidas pela Viatrips nas ações de educação ambiental realizadas no Parque Nacional da Serra da Canastra. Feitas de tubinhos de filmes fotográficos que eu recolhia nos laboratórios com quem tinha parceria, ou que recebia de amigos, serviam como local para que o turista guardasse pequenos lixos como papeis de balas e bitucas de cigarro para que não fossem jogados no meio ambiente. No Rally essas “bituqueiras” foram distribuídas aos participantes junto com um manual com informações sobre os cuidados ambientais que deveriam existir durante o evento. Anos mais tarde a “bituqueira” passou a ser uma caixinha de plástico feita especialmente para essa finalidade.

Em 2006 a equipe se dividiu e passou a contar com um membro dedicado à gestão ambiental dos acampamentos. Naquele ano eu fiquei incumbido dessa tarefa, que seria organizar equipes locais para recolher resíduos do acampamento e encaminhar a entidades de reciclagem nas cidades de destino, em parceria com as prefeituras locais. Deixei então de percorrer o trajeto da competição e passei a voar de uma cidade a outra para que pudesse ter tempo de organizar o acampamento no dia da chegada e fazer o fechamento no dia seguinte. Assim, a equipe de solo ficaria focada na limpeza do trajeto.

Em 2007, quando eu já não estava mais na Equipe Canastra, ela foi premiada pela União Latinoamericana de Motociclismo e em 2008 recebeu o Enviromental Awards, prêmio concedido pela FIM - Federação Internacional de Motociclismo pelo seu trabalho de conscientização ambiental durante o evento esportivo.

RALLY 2005 - CD 19 - 00220039.JPG
RALLY 2002 - FILME 446 FOTO 26.jpeg

AS PAISAGENS DOS SERTÕES

 

Quando vemos na TV ou nos sites especializados as reportagens sobre o Rally dos Sertões sempre ganham destaque as paisagens incríveis que servem de cenário para a competição. Muitos dos principais atrativos naturais do Brasil, que são visitados por ecoturistas do mundo todo, recebem anualmente o circo do Rally. A começar pela querida Serra da Canastra, que foi onde tudo começou, lá no início da década de 90 com Chico Morais. Berço do Rio São Francisco, a Serra da Canastra inspirou a criação do Rally que leva o nome do rio da integração nacional e que mais tarde se tornaria o Rally dos Sertões.

 

Outros destinos incríveis são o Jalapão (TO), Carolina (MA), Chapada Diamantina (BA), Lençóis Maranhenses (MA), Porto Seguro (BA) além de capitais do nordeste como Fortaleza (CE), Teresina (PI) e Natal (RN).

RALLY 2002 - FILME 449 FOTO 21.jpeg
RALLY 2005 - CD 19 - 00220040.JPG

A poeira e a secura do sertão passam a ser um detalhe quando olhamos em profundidade aquelas paisagens. Longas planícies, serras, planaltos, com uma diversidade ambiental e cultural que só o Brasil pode reunir em um só país, em tão poucos dias de viagem. Cidades vibrantes como São Paulo ou Goiânia são deixadas para trás e logo o Rally alcança vilarejos e povoados isolados no sertão, muitos sem energia elétrica (pelo menos nas edições que participei) e com acesso precário. Um exemplo desse isolamento foram alguns vilarejos pelos quais passamos entre os estados de Maranhão e Piauí. Localizados em meio a reservas, com estradas que são puro areião, sem qualquer tipo de sinalização, tínhamos que contar apenas com nossa planilha e com as informações que conseguíamos com os poucos moradores do local. Andar por esse sertão isolado, por horas, à noite, sem saber direito para onde ir,,, foi assustador, mas nos divertimos muito testando nossos limites.

RALLY 2002 - FILME 449 FOTO 18.jpeg
RALLY 2002 - FILME 450 FOTO 01.jpeg

A vegetação que cobre os sertões também impressiona. Cerrados, caatingas, desertos. Com o calor e pouca umidade a vegetação é agressiva, seca, com a predominância de árvores pequenas e arbustos. Animais pastam em campos empoeirados e são suplementados com as palmas colhidas diariamente. As pessoas plantam mandioca, milho, feijão, mas tudo sofre com o clima e a produção é pequena. Em certo trecho do percurso dava para notar a tristeza da seca e a pobreza da população. Uma menina agachada ao lado de uma poça de água esverdeada enchia algumas latas. Disse ela que era a única água que tinha para viver e que sua casa ficava a meia hora dali caminhando. Pedi a Deus misericórdia e agradeci a fartura que temos.

RALLY 2002 - FILME 448 FOTO 06.jpeg
RALLY 2002 - FILME 448 FOTO 07.jpeg

O RALLY E OS SERTÕES

Esse conflito me incomodava às vezes: Como é possível um evento milionário, com estruturas milionárias, com patrocínios milionários, passar voando por locais tão sofridos, com um povo tão humilhado pela falta de estrutura e de recursos básicos? Mas o Rally não é insensível aos Sertões. Muito pelo contrário. Faz questão de estar atento a esses problemas, de olhar para esse povo, de se preocupar com os impactos que causa e se esforça para reduzir, ainda que um pouco ou rapidamente, o sofrimento daqueles brasileiros. Ao divulgar as paisagens dos Sertões, o Rally valoriza o meio ambiente daquele local, sua cultura, e isso renova naquele povo a auto estima que a seca lhes tira. Ao implantar e manter uma equipe especializada na limpeza dos Sertões, o Rally se preocupa com aquele lugar, cuida para que tudo permaneça como estava e mostra respeito pelo solo por onde passa. Ao apoiar a Ação Social, que leva recursos básicos a tantas famílias dos Sertões, o Rally age para reduzir o problema, ao invés de ficar se lamentando ou esperando que os governos ajam. E assim é o Rally, em profunda sintonia com os Sertões, já há mais de 30 anos.

RALLY 2006 - CD 28 - 42150023.JPG

Os caminhos dos Sertões por onde passa o Rally

RALLY 2006 - CD 28 - 42150018.JPG
RALLY 2006 - CD 28 - 42150028.JPG

Visite também:

Edição de 2001 >>>

A Galeria "O Rally e os Sertões" é um trabalho de documentação fotográfica do evento Rally dos Sertões, organizado desde 1996 pela Dunas Race. 

Fotos e Textos de Thelson J. Lemos.

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução do conteúdo deste site sem expressa autorização do autor.

Apenas serão aceitas encomendas de ampliações FineArt das imagens desta Galeria nas quais não seja possível identificar pessoas retratadas.

Para maiores informações ENTRE EM CONTATO

Copyright 2020 Thelson J Lemos

Proibidas a distribuição e a reprodução, parcial ou integral, de imagens, textos e demais elementos desse site. Todos os direitos reservados, conforme Lei 9.610/1998.

  • Facebook ícone social
  • Instagram
bottom of page